terça-feira, 13 de novembro de 2012

O Sentimento do Outro (Artur da Távola)


"O mais difícil dos sentimentos, é o sentimento do outro. O outro é ele e és tu.
Ele é realmente o outro ou é parte tua que não queres ser, saber, ver ou
aceitar? Tu és o outro para os outros, logo és igual a ele. Todos somos
"outros". E no entanto o outro invade, ameaça, mastiga ...
de boca aberta, irrita,
oriça, machuca. Até teu filho é o outro. E tu, pobre pretensioso, pensas que ele
é teu...

O sentimento do outro quantas vezes te faz parar, meditar, deixar de fazer o
melhor que tens ou podes, só porque o outro é o mistério que te ameaça. Por que
o outro te ameaça? Porque ele é tu. Quanto maior teu sentimento do outro, maior
será teu o sentimento do melhor e do pior que tens.

O sentimento do outro não é sentir por ele. É saber porque ele sente. É avaliar
o como e o quanto ele sente. O sentimento do outro não é o masoquismo de fazer
teu, um sofrimento que só a ele pertence. É dimensionares certo a medida do
sofrimento dele e só poderes ajudar porque não fazes teu um sofrimento que é
dele, mas o entendes e sentes, na exata medida de sua extensão, sem as marcas e
as limitações da dor enquanto dói.

O sentimento do outro, cuidado com ele, vai te obrigar a ceder, a entender. Ele
vai atrapalhar para sempre teu desejo, tua gula e vontade. O sentimento do
outro é aquilo que é mais prático não ter. Mas que, em o tendo, não podes deixar
de exercer. Senão fermentas. Senão apodreces.

Ele freará tua vitória, calará teu brilho e tua boca, impedirá tua eficiência.
Pode até te pregar a suprema peça de te fazer entender os detestáveis. Cuidado
com ele! Quanto maior, mais anulador! Quanto mais anulador, mais cheio de
grandeza.

O sentimento do outro fará ser tua culpa do que não deu certo. E fará ser dele a
glória do que acertou. O sentimento do outro te fará tímido, herói, cais,
antena. Ser antena dilacera, sabias? O sentimento do outro te exigirá nervos,
músculos, e uma paciência de anacoreta. Quanto mais o outro o perceba em ti,
mais ele te invadirá, cobrará, exigirá, até quando, exaurido, ainda consigas
juntar os cacos do teu cansaço para, ainda assim, prosseguir.

O sentimento do outro é tua glória e tua tragédia! Tanto mais o terás quanto
encontras em ti os escaninhos escurecidos do que és e, ao mesmo tempo as luzes
do que, ainda puro, brilha em ti.

O sentimento do outro é a ponte que nem sempre sabes construir e mesmo quando a
constróis, nem sempre ela agüenta o peso. Mas é a reconstrução permanente a cada
vez que ela desaba.

O sentimento do outro é também feito de magias, como tua abertura para o Todo. É
a conversa (para os outros maluca) com teu corpo, com tua conjuntivite, tua
prisão de ventre, teu pâncreas, tua árvore, teu amuleto, teu gato, teu mingau,
teu cachorro e tuas mentiras. É a "aceitação" do que vai além da tua razão
repressora. Do mistério, do sortilégio, do segredo, do encantamento, da
infância.

O sentimento do outro é aceitar que te chamem de estúpido, ingênuo, idiota, ou
coisas mais graves, como conciliador ou santo de araque, quando sabes não ser
nada disso. E deixar sem ódio o equívoco a teu respeito até que o tempo se
encarregue de o desfazer.

O sentimento do outro é aceitar porque razões o outro (por mais que o queira),
não pode confiar em ti. É porque ele faz de ti o outro e, portanto, ele mesmo:
talvez por isso não te (se) sinta, perceba, intua ou revele. O sentimento do
outro é o que te dará a dimensão da justiça, o que encantará teu sentido de
igualdade, o que dará direção à alegria que pretendes seja flor aberta no
coração de cada pessoa.

O sentimento do outro te fará farrapos, humilhações, ataduras e esparadrapos
existenciais; retornos solitários para casa; artesão de impossibilidade, moleque
safado do próprio valor. Te fará ser chamado de burro, de débil, de complicado,
de indeciso, de vago, talvez até te cuspam na cara. Ou se virem de costas com
horror da tua lucidez ou medo da limpidez do teu olhar. O que é limpo "espelha".
O que é espelho, amedronta.

O sentimento do outro é o conteúdo do Amor ao próximo."

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A CRIANÇA E SEU PROCESSO DE COMPREENSÃO DA MORTE.

A psicóloga Maria Cristina Capobianco dá dicas aos pais e professores de como se deve conversar e ajudar a criança a entender o processo da morte.
A cada idade os recursos que uma criança tem para compreender os fenômenos que acontecem na sua vida são diferentes. Estes recursos variam e dependem de vários fatores, entre eles, sua maturidade e sua percepção do mundo a sua volta, sua história de vida, a forma como os pais e a escola lhe passam a informação e as crenças religiosas de seus pais.

Cada criança se desenvolve num ritmo singular e é importante lembrar que os pais conhecem seu filho e precisam guiar se por sua percepção e intuição que tem em relação a momento da criança no processo de crescimento.
A psicóloga Maria Cristina Capobianco explica que as pessoas ao falar da morte com uma criança temem trazer a tona ou provocar um sofrimento desnecessário e muitas vezes preferem esquivar-se das perguntas que as crianças têm a respeito deste tema. Existe a crença de que se não se toca no assunto, haverá menos sofrimento. “Muito pelo contrário, se não damos a chance à criança a falar dele, a expressar sua curiosidade, estamos deixando-a só com seus receios e fantasias. Esta solidão e falta de informação objetiva pode despertar um maior sofrimento”, afirma a terapeuta.
Descubra como conversar sobre diversos assuntos com as crianças . A psicóloga separou por faixa etária como se deve conversar com as crianças sobre assuntos polêmicos como: morte, separação dos pais, doença por parte da criança ou de algum parente e como apoiar a criança nos momentos difíceis.
                                                
Do nascimento até os 3 anos:
A percepção da criança: o bebê ou a criança percebe ou sente quando há a sua volta excitação, tristeza, ansiedade; percebe quando falta uma pessoa significativa ou a presença de pessoas novas ou estranhas ao ambiente familiar, porém ainda não possui recursos para compreender a morte, mas absorve as emoções daqueles que o rodeiam e pode mostrar sinais de irritabilidade, mudanças nos seus hábitos alimentares ou sono. Às vezes, se já adquiriu o controle dos esfíncteres, pode haver uma recaída e a criança pode fazer xixí ou cocô na cueca ou na calcinha. Depende muito da comunicação não verbal, do cuidado físico, do afeto e precisa ser reassegurado.

O tipo de apóio que pode ser oferecido é de manter as rotinas e a estrutura familiar sempre que possível. Se por alguma razão seus pais precisam se afastar, é importante escolher uma babá ou alguém da família que seja afetivo e que possa oferecer contato físico. Esclarecer sempre que possível a razão pela qual os pais estão tristes e porque as pessoas choram.
Se ele freqüenta o maternal, os professores podem e devem orientar os pais, fazendo uma reunião com todos explicando o processo de elaboração do luto das crianças. Também podem falar para os coleguinhas sobre o momento que a criança está passando.

Dos 3 aos 6 anos:
A percepção da criança: A criança acha que a morte é reversível, temporária, que a pessoa que faleceu voltará a qualquer momento. Nesta fase a criança é regida pelo que denominamos o pensamento mágico e egocêntrico: ela pensa que suas ações, sentimentos ou palavras são como varinhas de condom. As crianças dessa faixa etária, acreditam que a morte pode ser vista como um castigo devido a um mau comportamento.

A criança sente o impacto das emoções dos seus pais e irmãos; e freqüentemente o não dito o afeta provocando regressões, como fazer xixí na cama, chupar o dedo, segurar um paninho, etc.
Geralmente nessa etária os filhos têm dificuldade de expressar seus sentimentos verbalmente e conseqüentemente o faz através de ação; pode ficar mais agressivo, irritado ou impaciente quando brinca.
Perguntará as mesmas perguntas sobre o desaparecimento da pessoa muitas vezes, pois ele está se esforçando para adquirir recursos para compreender o conceito de morte, de perda. Pode exibir tristeza em alguns momentos; também sintomas somáticos, constipação, dor de barriga e irritações na pele. Também pode demonstrar uma intensificação da sua necessidade de contato físico, mesmo de pessoas estranhas. Às vezes associa fatos quem não tem relação; ou pode mostrar ansiedade se pensa que a pessoa que morreu pode voltar como um “fantasma”.

É importante oferecer oportunidades para que a criança possa desenhar ou pintar e expressar seus afetos, também de ler livros sobre histórias que falem da morte ou de perda de algum personagem ou herói.
 Ajudar a criança a identificar o que está sentindo, traz conforto para ela e também a ajuda a expressar seus sentimentos através da fala. É fundamental ser honesto e admitir que às vezes não tenhamos resposta para certas perguntas.

Na escola, os professores podem tocar no assunto, e explicar aos coleguinhas que a criança está passando por um momento triste, que precisa de cooperação e paciência. Podem ser realizadas reuniões com os pais para esclarecimento de condutas/comportamentos. É importante explicar os fatos de forma concreta, não utilizar eufemismos e dar esclarecimentos sobre a realidade física da morte confrontando-a com seu pensamento mágico, suavemente.  Os pais precisam verificar que a criança não se sinta responsável pela morte e precisam ser pacientes com os comportamentos regressivos ou infantis que ela possa apresentar. A criança tentará imitar as atitudes dos pais em relação como lidam com a perda, a dor, o sofrimento. Então é importante evitar os clichês, como “você pelo menos tem outro irmão” ,”Sempre podemos comprar outro animal de estimação”, pois eles revelam uma atitude muito “prática” de tentar apagar ou que aconteceu e substituir com um outro prazer “tampando” a emoção. Dizer que a “mãe foi dormir”, ou “Deus levou a vovó”, pode confundir a criança são sugestões que podem ser evitadas.

Dos 6 aos 9 anos:
A percepção da criança: Algumas crianças começam a entender as causas objetivas da morte, algumas ainda não. Ainda podem ver a morte como um espírito que vem para levar a pessoa; pode pensar que a morte é contagiosa e ela pode morrer também. A criança se seduz por o tema de mutilação e mostra curiosidade em relação ao aspecto do corpo morto.

Pode associar a morte com violência, devido a isto freqüentemente pergunta “Quem o matou”? Cria categorias em relação a quem pode morrer: os mais velhos e os que apresentam deficiências.
Nesta fase se preocupa com o que acontece com os mortos, como vivem, comem e respiram. Mesmo neste momento pode apresentar ansiedade e ter dificuldade de expressar suas emoções e sentimentos de desamparo. Pode apresentar diferentes sintomas transitórios como fobias, regressões, psicossomatizações. Se os pais não trabalharem esses sintomas, eles podem perpetuar se por mais tempo.
Neste período a criança se sente acompanhada se os adultos conversam com ela e a ajudam a identificar seus sentimentos, a esclarecer suas percepções e fantasias. Oferecer chances para que a criança possa desenhar e pintar e soltar sua criatividade em relação ao tema e seus sentimentos. É fundamental que a criança possa fazer isto livremente, sem receber críticas em relação a sua “obra”. Ajudar a criança a controlar seus impulsos pode aliviá-la no controle da sua dor.
Ter mais tempo para ouvir os sonhos da criança e lembrar à criança de tudo aquilo que era positivo da pessoa ou animal que perdeu. Ter fotos pode ser algo interessante.É importante que os pais e a escola se comuniquem, e que os professores saibam o que está acontecendo na família para que possam se tornar colaboradores nesta fase.

Dos 9 aos 13 anos:
A percepção da criança: À medida que passa o tempo a criança tem mais recursos mentais e emocionais para compreender as causas da morte. Agora se preocupa com o fato de como vai mudar sua vida com a perda da pessoa, do relacionamento. Apresenta resistência a se abrir e falar de suas emoções. No inicio pode parecer que ela não se importa com o que aconteceu, que ignora os eventos, que faz de conta que não houve morte. Os sentimentos de angustia e tristeza demoram a aparecer, e ela pode ter uma tendência a se isolar. Começa a mostrar interesse em rituais religiosos. Nesta fase se for um dos seus pais que faleceu, a criança pode querer assumir as responsabilidades do falecido e tomar seu lugar para ajudar e aliviar a tristeza de quem ficou. Isto se torna um peso e causa de futuras somatizações e conflitos.

Estimule a discussão sobre o tema da morte, tanto em casa como na escola. Aproveite mortes de outros, pessoas famosas, conhecidas para mostrar como estes processos são parte da vida. Ofereça modelos de pessoas que passaram por momentos difíceis. É importante ser paciente com as crianças se resistem a fazer suas lições de casa, se apresentam distraídos ou desligados, tente compartilhar seus sonhos e fantasias.
Ajudar os filhos ou os alunos a superar as dificuldades, mesmo na tenra infância é tarefa de pais e educadores, pois desta forma eles poderão oferecer meios para que as crianças construam seus recursos internos para enfrentar as dificuldades do mundo adulto e tornarem-se pessoas com capacidade para lidar com suas emoções e criar a empatia para lidar com as dos outros.
 
  

terça-feira, 6 de novembro de 2012

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O QUE É DISLEXIA?
A palavra dislexia é derivada do grego "dis" (dificuldade) e "lexia" (linguagem).


Dislexia é uma falta de habilidade na linguagem que se reflete na leitura.

Dislexia não é causada por uma baixa de inteligência. Na verdade, há uma lacuna inesperada entre a habilidade de aprendizagem e o sucesso escolar. O problema não é comportamental, psicológico, de motivação ou social.

Disle
xia não é uma doença, é um funcionamento peculiar do cérebro para o processamento da linguagem. As atuais pesquisas, obtidas através de exames por imagens do cérebro, sugerem que os disléxicos processam as informações de um modo diferente. Pessoas disléxicas são únicas; cada uma com suas características, habilidades e inabilidades próprias.

Importante ressaltar que somente uma equipe multidisciplinar formada por profissionais capacitados (médico, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo, neurologista), poderá, através do histórico e das avaliações pelas quais será submetido o indivíduo, dar o diagnóstico de dislexia.

A complexidade do entendimento do que é Dislexia, está diretamente vinculada ao entendimento do ser humano: de quem somos; do que é Memória e Pensamento- Pensamento e Linguagem; de como aprendemos e do por quê podemos encontrar facilidades até geniais, mescladas de dificuldades até básicas em nosso processo individual de aprendizado. O maior problema para assimilarmos esta realidade está no conceito arcaico de que: "quem é bom, é bom em tudo"; isto é, a pessoa, porque inteligente, tem que saber tudo e ser habilidosa em tudo o que faz. Posição equivocada que Howard Gardner aprofundou com excepcional mestria, em suas pesquisas e estudos registrados, especialmente, em sua obra Inteligências Múltiplas. Insight que ele transformou em pesquisa cientificamente comprovada, que o alçou à posição de um dos maiores educadores de todos os tempos.

Dislexia, antes de qualquer definição, é um jeito de ser e de aprender; reflete a expressão individual de uma mente, muitas vezes arguta e até genial, mas que aprende de maneira diferente...

Fica a dica