Mas, afinal, “olho gordo” existe? E, se existe, pega? Para Etienne Higuet, professor do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), primeiro é preciso entender o conceito de superstição: crenças e práticas que não são consideradas válidas pelas instituições religiosas oficiais e tidas ainda como vãs e irracionais pela ciência.
“Acreditar que o olhar de certas pessoas têm um poder mágico vem de um fundo religioso muito antigo e arraigado nas culturas ameríndias, afro-americanas e europeias, especialmente latinas e camponesas, que o cristianismo institucional nunca conseguiu abafar completamente”, afirma. Etienne explica que essa ideia subsiste no inconsciente coletivo e, no Brasil, ganha força com a herança das culturas indígenas e africanas, a intensa adesão local ao espiritismo e o sincretismo entre todas as tendências religiosas.
O “olho gordo” corresponde à imensa vontade humana de poder controlar o destino. Só que esse desejo encontra múltiplos obstáculos, de modo que qualquer fracasso pode ser facilmente atribuído a pessoas mal intencionadas ou detentoras de forças que elas mesmas não conseguem controlar.
“Pode ser um meio de não assumir a responsabilidade por certos fracassos ou acontecimentos, atribuindo o ocorrido a outras pessoas ou a forças irracionais incontroláveis”.
Uma forma de se preservar do “olho gordo” seria se transformar no próprio amuleto, fortalecendo o pensamento positivo e a autoimagem.
“A inveja do outro fisga a sua. O ‘olho gordo’ só pega em quem também o traz dentro de si e quer competir, brigar, disputar”.
Fonte: Revista Mente e Cérebro.