É possível concluir que, entre os milhares de cirurgias realizadas, muitas tinham indicação médica, mas como traçar a linha que delimita necessidade de exagero? A sociedade de consumo difunde a ideia de que toda infelicidade pode ser resolvida não só na aquisição do que se é levado a acreditar que precisa, como também numa eventual correção do erro da natureza, ou seja, a culpa é do corpo, quando ele for consertado, tudo fará sentido e o sofrimento desaparecerá, junto com inseguranças e sensação de inadequação.
Quando se ultrapassa o limite da vaidade saudável, aquela que faz o indivíduo cuidar de si mesmo com carinho, e se perde a visão clara do que é possível, buscando-se o bem-estar emocional na supressão do que é considerado defeito insuportável, principalmente em pessoas tão jovens, a sociedade deve se repensar.
Números e estatísticas quantificam e assustam, mas não dão a dimensão das transformações sociais que ocorrem cada vez mais rápido e enredam indivíduos que mal saíram da infância. Além das mudanças hormonais e biológicas que caracterizam a adolescência, há as emocionais e psicológicas, como imediatismo, impulsividade, rebeldia, necessidade de autoafirmação e independência, que levam os jovens a se afastar dos pais e buscar seus iguais, considerados os únicos capazes de entendê-los. E com a saída de casa para a rua e para os grupos, é preciso não só aceitar, mas seguir as regras que regem as relações entre os membros, que incluem roupas, cabelos, corpos, o que é desejável e o que desagrada. Acrescente-se que padrões de beleza e modismos são difundidos pela cultura pop, representada por ídolos teen, por exemplo. Cabe aos adultos dar limites e orientar nesta fase de desenvolvimento da maturidade, da infância para o mundo adulto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário