quarta-feira, 17 de julho de 2013

Adolescentes e cirurgias plásticas

Levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) indica que o número de jovens com idades entre 13 e 18 anos que se submeteram a cirurgias estéticas passou de 37 mil para 91 mil, entre 2008 e 2012, significando aumento de 141%. Entre as intervenções mais procuradas está a lipoaspiração, seguida pela prótese de silicone nos seios. Em relação aos meninos, os procedimentos mais procurados são a ginecomastia (redução das mamas) e a cirurgia para corrigir a orelha de abano. 
É possível concluir que, entre os milhares de cirurgias realizadas, muitas tinham indicação médica, mas como traçar a linha que delimita necessidade de exagero? A sociedade de consumo difunde a ideia de que toda infelicidade pode ser resolvida não só na aquisição do que se é levado a acreditar que precisa, como também numa eventual correção do erro da natureza, ou seja, a culpa é do corpo, quando ele for consertado, tudo fará sentido e o sofrimento desaparecerá, junto com inseguranças e sensação de inadequação.


A crença de que toda insatisfação se concentra no exterior, sem que se indaguem as razões emocionais de uma angústia perene, leva a uma sucessão de procedimentos e tentativas de se alcançar a aparência aprovada pelos outros, mais próxima de um modelo vendido como belo. A pessoa persegue o suposto defeito e precisa vencê-lo, numa luta sem ganhadores, mesmo depois de todos os procedimentos estéticos, dermatológicos, cirúrgicos. E, se não levar ao desenvolvimento de transtornos graves, como transtorno dismórfico corporal, anorexia e bulimia nervosas, ao menos empobrecerá a vida emocional.
Quando se ultrapassa o limite da vaidade saudável, aquela que faz o indivíduo cuidar de si mesmo com carinho, e se perde a visão clara do que é possível, buscando-se o bem-estar emocional na supressão do que é considerado defeito insuportável, principalmente em pessoas tão jovens, a sociedade deve se repensar.
Números e estatísticas quantificam e assustam, mas não dão a dimensão das transformações sociais que ocorrem cada vez mais rápido e enredam indivíduos que mal saíram da infância. Além das mudanças hormonais e biológicas que caracterizam a adolescência, há as emocionais e psicológicas, como imediatismo, impulsividade, rebeldia, necessidade de autoafirmação e independência, que levam os jovens a se afastar dos pais e buscar seus iguais, considerados os únicos capazes de entendê-los. E com a saída de casa para a rua e para os grupos, é preciso não só aceitar, mas seguir as regras que regem as relações entre os membros, que incluem roupas, cabelos, corpos, o que é desejável e o que desagrada. Acrescente-se que padrões de beleza e modismos são difundidos pela cultura pop, representada por ídolos teen, por exemplo. Cabe aos adultos dar limites e orientar nesta fase de desenvolvimento da maturidade, da infância para o mundo adulto.

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